Por Marcelo Villin Prado para a Revista O Confeccionista – Edição 47
Dentre todos os vários segmentos que envolvem o setor de vestuário, um dos quais ganharam bastante relevância no Brasil foi a moda praia e fitness. Nas últimas duas décadas, o setor vivencia um processo intenso de diversificação e aumento na produção de seus produtos. O movimento foi provocado muito em conta do aumento do poder aquisitivo da população brasileira no período.
O segmento passou a contar com maior atenção da cadeia têxtil a partir dos anos 90, quando a produção começou a registrar um crescimento constante, entre picos e vales. O primeiro grande pico veio em 2000. Neste ano, a produção de moda praia atingiu a marca de 202,4 milhões de peças, obtendo crescimento de 12% sobre o ano de 1999 e 40% em relação a 1990. Já a moda esportiva/fitness que chegou a 551,7 milhões de peças produzidas em 2000, tendo um aumento de 23% sobre o ano anterior e 71% comparado com 1990.
De 2000 em diante, o crescimento da moda praia e fitness se manteve contínuo e estável até chegar a um novo pico. Em 2010, a produção de moda praia chegou a 298,6 milhões de peças produzidas, 48% superior a maior alta anterior, em 2000. No ano seguinte, a produção de moda esportiva/fitness atingiu a marca de 787,7 milhões de peças, índice 43% superior a 2000. A partir deste ponto, a produção deste segmento começou a declinar, chegando a cair 14% em média em 2017, em relação aos melhores desempenhos da produção de moda praia e fitness (2010 e 2011 respectivamente).
A série negativa iniciada em 2012 foi potencializada com a crise econômica instalada no país, a partir de 2015. Com isso, os artigos de moda praia e fitness mostraram-se não sendo tão essenciais na demanda das famílias, uma vez que o consumo não mostrou muita reação em comparação com outros segmentos de vestuário.
Indústria e produção
No ano passado, as micro e pequenas empresas produtoras de moda praia e fitness corresponderam por 97% da produção e 66% do emprego do segmento. Em termos de perfil, de 2012 para cá, o setor caiu como um todo, porém de forma mais acentuada para as micro e pequenas empresas, que enfrentaram bastante dificuldade no período, inclusive com fechamento de empresas (34% delas) e demissões (queda de 17% de empregados). Somente houve aumento no número de organizações de grande porte (17%) e na quantidade de empregados junto às empresas de médio e grande porte (16%)., indicando que a recuperação ocorre de maneira lenta, principalmente entre as de menor porte.
Também quando é avaliada a produção por região, tendo em vista os números de unidades produtoras e pessoal empregado, a região Sudeste se destaca por concentrar os maiores mercados consumidores e sediar os principais centros de distribuição de atacado e varejo do país. No Sudeste se concentra 48,1% da produção nacional, seguido do Sul, com 30,6%, e do Nordeste, com 16,7%. Centro-Oeste e Norte, juntos, responderam por 4,4% da produção total de 2017.
Vale destacar ainda que as roupas de praia e esportivas/fitness em tecidos de malha representaram 77% do volume fabricado em 2017 – os tecidos planos ficaram com 23%. Essa proporção vem se mantendo nos últimos anos, com leve variação para o crescimento no uso de tecidos de malha. Na moda praia, 92,2% são produzidas em tecidos de malha e na moda esportiva, 68,8%. O uso em tecidos planos é baixo, especialmente em moda praia (0,8%), devido a necessidade de maior elasticidade do tecido e também menor peso.
Importações e exportações
Dentre os principais países de origem das importações brasileiras de artigos de roupas de praia e esportiva/fitness, se destaca a China, com aproximadamente 79,3% do mercado importador nacional de roupas de praia e 56,9% de esportivas/fitness. Bangladesh é o segundo maior fornecedor ao Brasil, participando com 6% de praia e 11,6% de esportiva. Ambos os países contam com elevada participação na produção e comércio externo na cadeia têxtil, especialmente nos diferentes segmentos de vestuário, tendo em vista as grandes mudanças na configuração de produção mundial da cadeia.
Já nas exportações brasileiras de roupas de praia, o principal país de destino foram os Estados Unidos, com 27,2%, seguido por Portugal, com 7,6% dos valores exportados em 2017. Na moda esportiva/fitness, o principal destino foi o Paraguai com 28,1%, seguido pelo Uruguai, com 14,2%, pela Bolívia, com 9,7%, pelos Estados Unidos, com 7,7% e pela Argentina, com 3,5% dos valores exportados em 2017. Juntos os quatro países da América do Sul correspondem por 55,5% das exportações nacionais de moda esportiva.
Fica clara a boa penetração de artigos brasileiros de moda praia e esportiva/fitness em mercados mais relevantes e com maior nível de renda em comparação com outros segmentos do setor de vestuário. A principal razão desta maior penetração nestes mercados é a qualidade dos produtos produzidos em território nacional neste segmento, que são famosos inclusive fora do País, em especial da moda praia.
Perspectivas futuras
Embora 2017 ainda tenha sido um ano de retração na produção deste segmento no País, para 2018 já se espera um início de retomada, quando os artigos de moda praia devem apresentar crescimento de 1,5% na produção em volumes, superior à media esperada para o vestuário em geral, que é de 0,8%. E para artigos de moda esportiva/fitness espera-se um avanço mais tímido, de 0,7% na produção em volumes no Brasil.
Neste momento, em que a demanda começa a voltar a se aquecer, é essencial que as empresas invistam em uma maior diversificação de produtos aos consumidores e também aposte na qualificação e profissionalização dos funcionários. Quem optar por esse caminho colherá os frutos lá na frente.
* Marcelo Villin Prado é sócio-diretor do IEMI – Inteligência de Mercado, e membro do Comitê Têxtil da FIESP ([email protected]).