Marcelo V. Prado
Sócio-diretor do IEMI – Inteligência de Mercado, e membro do Comitê Têxtil da FIESP.
Para o ano de 2021, entretanto, o cenário se mostra consideravelmente melhor para o segmento, com uma expansão prevista na ordem de 15,6% para o consumo local.
Esse ano, felizmente, o início da estação Primavera Verão 2021 | 2022 ocorre dentro de um contexto bem mais positivo, com avanços consistentes na vacinação no país e com a redução quase total nas restrições ao funcionamento do comércio convencional e na mobilidade dos consumidores. E com a nova estação, é momento de voltarmos nossos olhos para uma das linhas de produto mais afetadas durante toda a pandemia do COVID-19, no Brasil, que é a linha de moda praia.
Com seus 7,5 mil quilômetros de litoral e clima tropical em quase toda a sua extensão, o Brasil tem sido, há décadas, um dos países ícones mundiais na produção, no consumo e no desenvolvimento de tendencias para o segmento de moda praia.
Em 2020, porém, com as restrições geradas pela crise sanitária, o consumo de roupas de praia no país, conforme demonstrado pelo Estudo dos Canais do Varejo de Vestuário no Brasil, editado anualmente pelo IEMI, foi reduzido em quase 19% em volumes, com um total de 221 milhões de peças comercializadas no varejo, contra 271 milhões de peças registradas no ano anterior (2019).
Com uma redução de quase 50 milhões de peças vendidas ao longo do ano, o varejo de moda deixou de faturar, somente com as roupas de praia, R$ 2 bilhões, em 2020, ajudando a engrossar as perdas sofridas pelo setor, em praticamente todas as suas linhas de produto, naquele período. O fraco desempenho do varejo de moda praia, durante todo o ano de 2020, e os primeiros meses de 2021, foi altamente impactado pela frequência reduzida de consumidores a clubes, praias e piscinas, por conta dos riscos de contágio, e pela pouca relevância das vendas pela internet desse tipo de produto, com participações ainda abaixo de 5% do total das receitas geradas, mesmo tendo quase dobrado em valores absolutos, em 2020.
Os efeitos para as indústrias brasileiras dedicadas à fabricação de roupas de praia, a grande maioria delas de micro e pequeno porte, foram igualmente danosos, uma vez que são altamente dependentes do consumo interno, já que as exportações brasileiras do produto, são inferiores a 0,3% do total confeccionado no país.
Para o ano de 2021, entretanto, o cenário se mostra consideravelmente melhor para o segmento, com uma expansão prevista na ordem de 15,6% para o consumo local, em volumes de peças, e de 19,3% em receitas nominais. Tendo em conta que a estação Primavera Verão, que transcorre entre os meses de setembro e fevereiro, responde por nada menos que 95% de toda a venda de moda praia pelo varejo local, as estimativas são de que as receitas a serem alcançadas com esta linha de produto, na próxima estação, sejam superiores a R$ 10,4 bilhões.
Sem dúvida, esses são números expressivos e alentadores para as confecções brasileiras que tanto sofreram com os efeitos da crise econômica gerada pelas restrições sanitárias impostas no país, visando o combate à pandemia, mas que ainda têm pela frente uma longa jornada para voltar à normalidade, com desafios que superam a movimentação da demanda, como é o caso do suprimento de matérias-primas e a recontratação de funcionários qualificados para a recomposição da sua capacidade produtiva, similar ao período anterior à pandemia.
Entendo que para as marcas brasileiras de moda praia, mais do que nunca, é hora de se preparar para crescer, mas tendo como foco, estratégias que englobem os canais de venda, os públicos-alvo e as regiões que mais crescem no país, já que a retomada da demanda continuará sendo bastante desigual e seletiva, entre os diferentes segmentos do mercado.
Leia o artigo “De Volta à Praia” na edição completa:
Indicadores conjunturais
Em julho de 2021, de acordo com o último dado disponível, a indústria do vestuário registrou aumento de 14,2% em relação a junho, sinalizando um mês bastante positivo para a indústria de vestuário. No acumulado do ano, comparado com o mesmo período de 2020, o segmento apresentou alta na ordem de 36,1% em volume de peças produzidas. Frente a dezembro de 2020, a produção mensal da indústria de vestuário apresenta aumento na ordem de 11,9%, dado que indica boa tendência de recuperação do setor, que ainda se encontra a caminho de recuperar os patamares de produção do período pré-pandemia.
Por outro lado, o índice de vendas no varejo de vestuário (em volume de peças), apresentou crescimento na comparação mensal respeito ao mês de junho, com um aumento de 6,4%. Este porcentual indica uma recuperação no comportamento de compras dos consumidores, mesmo sem a ocorrência de uma data comemorativa no mês, que estimule o consumo em massa de peças de vestuário, contando apenas com as baixas temperaturas que persistiram quase todos os dias do mês, nos estados do Sul e Sudeste.
Esse comportamento favorável observado nesses indicadores deve ser atribuído, ainda, à estabilidade econômica oferecida pelo avanço do processo de vacinação e a redução crescente das restrições ao comércio e à mobilidade das pessoas.
Em julho, houve aumento nos preços do varejo de vestuário, da ordem de 1,02%, segundo o IPCA (IBGE), acumulando nos últimos doze meses um aumento de 7,10%.
Com relação ao valor das importações, em julho de 2021, houve aumento de 25,4%, frente ao mesmo período de 2020, atingindo aproximadamente US$ 88.2 milhões.
As exportações brasileiras de vestuário, por sua vez, apresentaram crescimento de 53,8%, em dólares, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, atingindo um total de US$ 13.3 milhões, nas vendas ao exterior em julho de 2021, dado influenciado pela forte desvalorização que vem carregando o real desde 2020.