A chegada da americana Gap só confirma que o varejo de moda no Brasil, um setor bastante fragmentado, está virando mercado de gente grande. E que, daqui para frente, o ambiente de competição ficará particularmente difícil para as redes menores ou menos capitalizadas.
Por enquanto, a Gap confirmou apenas duas lojas (ambas em São Paulo) até o fim do ano, mas ninguém duvida que a varejista, cujas vendas líquidas somaram US$ 15,7 bilhões no ano passado, tenha planos mais ambiciosos para o Brasil. Com 1.600 lojas no total, e já presente no Chile, Uruguai, Panamá, Colômbia, Peru e México, a companhia abriu 50 unidades na China em 31 meses de atuação.
A Gap vem se juntar ao grupo de multinacionais de moda já presentes por aqui, como a holandesa C&A, líder em vestuário no país, e a maior do mundo no segmento ‘fast fashion’, a Zara, do grupo espanhol Inditex. No mercado, já espera-se a chegada da sueca H&M, segunda do ranking internacional em tamanho. A inglesa Top Shop já fez sua estreia no shopping JK Iguatemi e a australiana Cotton On também deve desembarcar em breve, apurou o Valor.
Todas juntas vão dividir uma pizza grande – o varejo de moda no Brasil deve faturar R$ 170 bilhões em 2013, segundo o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi) -, mas que tende a crescer em velocidade mais modesta nos próximos anos, uma previsão que já está nas contas das nacionais Renner, Riachuelo e Marisa.
Quem quiser garantir espaço no mercado de vestuário, precisa se capitalizar para dar largada a um plano de expansão mais agressivo e investir em melhora de controles, inovação e eficiência. Sabidamente, para ter acesso a produtos mais baratos via importações, as redes precisam de escala.
Varejistas tradicionais como TNG, Farm Animale, Valdac (Siberian, Crawford e Memove) e, no segmento mais popular, a Besni, são algumas das empresas que estão em busca de um sócio, informam fontes do setor. A Besni nega que esteja à venda. A TNG afirmou que está “em sigilo por questões jurídicas”. E a Valdac diz que um aporte de investidores é uma hipótese em estudo.
Durante quase um ano, a Farm Animale ficou em conversas com a Tarpon. Não chegou a um acordo, mas os planos de se associar a um investidor estratégico permanecem. A mais recente aquisição da Tarpon, que tem tradição no varejo de moda, foi a marca Morena Rosa, do Paraná, no ano passado.
Até agora, a única grande operação fechada este ano foi a compra da Seller pela Leader, do BTG Pactual, que ambiciona ser consolidadora em um mercado onde as quatro maiores redes (C&A, Renner, Riachuelo e Marisa) detêm fatia inferior a 12%.
O fato é que o ambiente não está tão propício para operações de fusões e aquisições no setor, por dois motivos. Um deles é que as vendas das redes patinam, colocando um freio no apetite de investidores. Tão importante quanto isso está o fato de tradicionais forças compradoras estarem, temporariamente, fora do jogo.
Não de agora, a holding Inbrands (Ellus, VR e Richards), controlada pela gestora Vinci Partners, está dando um tempo nas compras para “arrumar a casa”, após um período de várias aquisições. Também com foco em recuperar a rentabilidade está o grupo Restoque (dono da Le Lis Blanc), controlado pelo fundo Artesia, cuja última aquisição foi da marca Rosa Chá, em 2012, ano em que a Osklen se aninhou nos braços da Alpargatas.
Douglas Carvalho, dono da boutique de fusões e aquisições Target Advisor, diz que ainda há bastante interesse pelos ativos do setor, mas os fundos têm sido cada vez mais exigentes em questões de governança e auditoria. “Apenas ter uma marca conhecida e bem posicionada é obrigação”, diz Carvalho, que assessorou a venda das grifes VR, Bobstore, Los Dos, Mandi, Bazahr e Empório Naka, entre 2010 e 2012.
Outra fonte do ramo diz que várias operações este ano estão emperradas porque é difícil convencer os donos de que, neste momento de vendas fracas, suas empresas não valem tanto quanto eles pensavam. A missão fica ainda mais complicada já que os fundos, justamente aproveitando o duro cenário de curto prazo, querem conseguir pechinchas. Como é da praxe, as negociações têm estacionado na questão do preço, que pode ir de oito a 14 vezes Ebitda no setor de moda, segundo especialistas. (Valor Econômico – 11/09/2013)
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