Estamos chegando ao final do ano e as datas mais importantes para o varejo de vestuário, calçados e móveis se aproximam, levantando especulações de toda sorte em relação aos resultados que serão alcançados pelas lojas de moda e decoração.
Se nos pautarmos pelo ambiente interno do país, com as ameaças de crise, a deterioração das contas públicas, a sangria das estatais, a inflação persistente, investimentos em baixa, juros e dólar em alta, logo podemos entender a insegurança do varejo em apostar em um horizonte mais promissor para as vendas de final de ano, preferindo adotar uma política mais conservadora de formação de estoques.
Esta estratégia de suprimento pode parecer válida para o decorrer de todo o ano, mas, em minha opinião, simplesmente não se adéqua ao período de Natal, pois, além de ser um momento muito curto de frenesi de consumo (o termo aqui é esse mesmo), com algo entre 6 e 8 semanas de vendas superaquecidas, ele é financiado por um evento absolutamente inédito para as demais épocas do ano, no caso, o pagamento do 13º. salário, que chega ao bolso de todos os trabalhadores do país, praticamente ao mesmo tempo, abençoado pelas mais importantes datas de comemoração cristã, onde as famílias se reúnem para comer tudo o que podem (e que não podem também) e presentear um ao outro.
É certo que para alguns, este recurso é a grande oportunidade para pagar dívidas indesejáveis, trocar de carro, comprar uma viagem especial, etc., mas ainda assim, seria quase um pecado não reservar ao menos uma pequena parte deste recurso adicional para se juntar em família e se presentear.
O fato é que, independente de crises, clima, ou qualquer outra variável, as vendas de roupas e calçados em Dezembro deverão alcançar um valor 2,1 vezes superior à venda média mensal do restante do ano, no varejo de moda. Para móveis e eletrônicos, este boom de vendas será mais modesto, mas mesmo assim, representará um crescimento de 62% nas vendas de dezembro, sobre a média mensal do restante do ano.
Estes índices são construídos a partir de modelos de projeção que reproduzem um comportamento padrão monitorado pelo IEMI, mês a mês, desde o início dos anos 2000, com pouquíssima variância nos indicadores citados.
Ou seja, independente do astral pouco elevado do varejo, relatado recentemente pelos jornais, as vendas dos produtos de moda e decoração vão andar muito bem no final do ano, como sempre o fazem, e aqueles que não ousarem se estocar para este breve período de consumo frenético, poderão perder vendas para os que tiverem sido mais arrojados.
Este cenário já ocorreu em 2012 e muitos varejistas de capital aberto se viram obrigados a vir a público e explicar em seus balanços que suas metas não foram alcançadas, por que faltou produto em seus estoques para atender a demanda do consumo de final de ano. Afinal, o 13º. salário deste ano virá engordado de dissídios que superaram a média de 8% de reajuste e os consumidores de menor renda poderão dispor de um salário mínimo que se elevou muito além da inflação.
Marcelo V. Prado é sócio-diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi) e membro do Comitê Têxtil da Fiesp.
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