Na primeira fila da plateia que assistia ao desfile de maiôs e biquínis da Hope, na segunda-feira 31, em São Paulo, estava o fundador da marca, o libanês Nissin Hara, de 78 anos. Ao lado de sua mulher, Raquel, o empresário observava atentamente cada passo das modelos que exibiam os lançamentos da grife. Em seu olhar atento era possível perceber que Hara estava gostando do que via. Em 48 anos de operação, o empresário transformou uma pequena confecção de roupa íntima no bairro paulistano do Brás em uma das maiores e mais renomadas marcas do segmento de vestuário feminino do País. Aquele desfile não era um evento qualquer para a Hope.
Tratava-se de mais um importante passo para a empresa em quase meio século. A grife estreava no segmento de moda praia, com o lançamento da Hope Resort. “Nunca imaginei que chegaríamos tão longe”, disse Hara, emocionado, depois do desfile. “Mas o que vejo para o futuro é maravilhoso.” Na ocasião, ele aprovou a primeira coleção da marca que chegará aos consumidores no segundo semestre deste ano. Além da satisfação com o resultado do desfile, Hara mostrava nitidamente que também estava orgulhoso como pai. A expansão da Hope para um novo mercado foi idealizado por suas três filhas, Sandra, Karen e Daniele, que hoje comandam a companhia, que faturou cerca de R$ 280 milhões, no ano passado, de acordo com analistas de mercado.
Além de não revelar seu faturamento, a Hope mantém como um segredo íntimo seus investimentos e estratégias de negócios. Sabe-se, no entanto, que a fabricante de lingerie começou a testar o mercado, há dois anos, em uma parceria com a grife paulistana de moda praia Jo de Mer. “Decidimos que agora temos de caminhar com as nossas próprias pernas”, afirmou Sandra Chayo, diretora de marketing e filha de Hara. De seu escritório no bairro do Bom Retiro, de onde saíram grandes marcas de lingerie e moda praia brasileira, como a Rosa Chá, criada por Amir Slama e que hoje pertence à Restoque, Sandra recebe o apoio do estilista para começar a nova empreitada da Hope.
“Conversei duas vezes com o Slama e ele nos incentivou muito a investir nessa área”, afirma a herdeira da Hope. A Hope Resort terá a modelo Emanuela de Paula como garota-propaganda e suas peças terão estampas e recortes inspirados nas belezas naturais da Ilha de Marajó, no Pará. No segmento de lingeries, Gisele Bündchen e Juliana Paes já representaram a marca. De acordo com o diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), Marcelo Prado, a entrada da Hope nesse mercado não se deu por acaso. “A moda casual, de moda praia e fitness, cresce mais do que a média de mercado”, afirma Prado.
Segundo dados do instituto, enquanto o mercado de varejo têxtil deve crescer 8,1% em 2014, a previsão para moda praia é de um aumento no consumo de 9,1%, com faturamento de R$ 5,3 bilhões neste ano. “Até por isso, as grandes marcas estão investindo nessa área”, disse. Isso porque, de acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), José Luiz Cunha, é um mercado subdimensionado. “Ainda temos muita informalidade nesse mercado, com barraquinhas na praia vendendo biquínis”, afirma Cunha, que prevê um período de consolidação na indústria de roupas de praia.
A nova coleção da Hope será comercializada com exclusividade nas lojas próprias e franquias da marca. Desde 2006, a marca resolveu aventurar-se sozinha no varejo, saindo dos grandes magazines. A empresa diz que a decisão foi acertada. De acordo com Sandra, as vendas da marca cresceram 43% no ano passado na comparação com 2012. No mesmo período, o número de lojas subiu de 101 para 116 unidades no Brasil, além de três na Argentina e duas em Israel. “O nosso varejo cresceu bem mais que a produção, que apresentou aumento de 7% no ano passado em faturamento”, afirmou Sandra.
O bom desempenho, segundo ela, ocorreu em decorrência da expansão dos investimentos em marketing e campanhas de vendas. Hoje, a produção da companhia está concentrada em sua fábrica no Ceará. “O ano passado não foi um ano fácil, trabalhamos muito”, disse Sandra. O sucesso da Hope em sua jornada pelo varejo também tem sido notado pelo mercado e por investidores. Segundo Sandra, o assédio de fundos de investimento e de empresas do setor de vestuário está cada vez maior. “Mas não queremos um sócio nem vender a marca”, afirmou. “Não queremos perder a nossa autonomia, pois a moda não se resume a números.” (Fonte: Istoé Dinheiro – 04/05/2014)